"D. Leocádia, quem recebe o bem fica sempre humilhado. O bem constrange. O que chamas piedade e o bem põe quem o recebe na situação de te morder as mãos. E continuar a fazer o bem é elevar-te pelo bem que fazes e rebaixar-me pelo bem que receb. Acabas por gastar o que em mim há de melhor. Oh!, D. Leocádia, se eu pudesse - eu é que te fazia o bem, para tu veres o que é o bem recebido, o bem agradecido e o bem amargurado. Antes tu me fizesses, D. Leocádia, porque o mal põe-me ao teu nível, e o bem acostuma o desgraçado a ser mais desgraçado ainda. Degrada-o. Põe-no na dependência da desgraça. Cria uma superioridade, a tua, e um azedume, o meu. Classifica para todo o sempre. Estou perdido senão reajo em ódio."
(Húmus, Raul Brandão)
(Húmus, Raul Brandão)